sábado, 13 de outubro de 2007

Poesias de Safo

(imagens:lidia machado)


Algumas mostras da poesia de Safo:

A Átis

tradução de Décio Pignatari

Não minto: eu me queria morta.
Deixava-me, desfeita em lágrimas:

"Mas, ah, que triste a nossa sina!
Eu vou contra a vontade, juro,
Safo". "Seja feliz", eu disse,

"E lembre-se de quanto a quero.
Ou já esqueceu? Pois vou lembrar-lhe
Os nossos momentos de amor.

Quantas grinaldas, no seu colo,
— Rosas, violetas, açafrão —
Trançamos juntas! Multiflores

Colares atei para o tenro
Pescoço de Átis; os perfumes
Nos cabelos, os óleos raros

Da sua pele em minha pele!
[...]
Cama macia, o amor nascia
De sua beleza, e eu matava
A sua sede" [...}

Cai a lua, caem as plêiades e
É meia-noite, o tempo passa e
Eu só, aqui deitada, desejante.

— Adolescência, adolescência,
Você se vai, aonde vai?
— Não volto mais para você,
Para você volto mais não.




(31 Poetas, 214 Poemas. Sao Paulo: Companhia das Letras, 1996)

A uma mulher amada


Ditosa que ao teu lado só por ti suspiro!
Quem goza o prazer de te escutar,
quem vê, às vezes, teu doce sorriso.
Nem os deuses felizes o podem igualar.

Sinto um fogo sutil correr de veia em veia
por minha carne, ó suave bem querida,
e no transporte doce que a minha alma enleia
eu sinto asperamente a voz emudecida.

Uma nuvem confusa me enevoa o olhar.
Não ouço mais. Eu caio num langor supremo;
E pálida e perdida e febril e sem ar,
um frêmito me abala... eu quase morro... eu tremo.

(fragmentos de um poema)

Tradução de Joaquim Fontes

"Parece-me igual aos deuses
ser aquele homem que, à sua frente sentado,
de perto, doces palavras, inclinando o rosto,
escuta,
e quando te ris, provocando o desejo; isso, eu juro,
me faz com pavor bater o coração no peito;
eu te vejo um instante apenas e as palavras
todas me abandonam;
a língua se parte; debaixo da minha pele,
no mesmo instante, corre um fogo sutil;
meus olhos me vêem; zumbem
meus ouvidos
um frio suor me recobre, um frêmito me apodera
do corpo todo, mais verde que
as ervas
eu fico
e que já estou morta
parece (...)
Mas (...)".

(Eros, Tecelão de Mitos. São Paulo: Estação Liberdade, 1991)

S. Carticha Ellis, ex-catedrático da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas, SP) é membro da Academia Campineira de Letras e Artes.

O autor nasceu numa pequena cidade, Melo, no Uruguai. Estudou na "Universidad de la República" em Montevidéu onde graduou-se em Engenharia Elétrica e Mecânica. Com uma bolsa do British Council e outra da Unesco, estudou na Glasgow University e no Cavendish Laboratory da Cambridge University.

Aposentou-se em 1991 mas continua publicando trabalhos de pesquisa. Professor Honorífico da Universidade Autônoma de Madrid (1976).




5 comentários:

««ÑËW_WΣЊ_»» disse...

mente livre porque artista

parabéns por gostar da lírica de safo!

lidia.amiga disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
lidia.amiga disse...

Faço o que acho certo ou seja levar um pouco de cultura para aqueles que não tem acesso.
Obrigado por ter vindo.Volte sempre.

lidia.amiga disse...

Obrigada pela visita, meu amigo! Volte sempre.







safo#poesia#

Anônimo disse...

incrivel bela art��